Oannes: o misterioso Deus peixe da Mesopotâmia
Oannes é um dos personagens mais enigmáticos da mitologia mesopotâmica. Ele é descrito como um ser anfíbio, com a forma de um peixe, mas com a cabeça e os pés de um homem. Ele teria surgido do Golfo Pérsico e ensinado aos humanos os segredos da escrita, das artes e das ciências.
As origens de Oannes
A principal fonte sobre Oannes é o sacerdote babilônico Beroso, que viveu no século III a.C. e escreveu uma história da Mesopotâmia em grego, chamada Babiloniaca. Nessa obra, Beroso relata que, no primeiro ano do reinado de Aloros, o primeiro rei da Babilônia, apareceu no mar da parte da Eritreia um animal dotado de razão, chamado Oannes.
Segundo Beroso, Oannes tinha o corpo inteiro de peixe, mas sob a cabeça de peixe tinha outra cabeça, humana, e também pés humanos, juntamente com a cauda de peixe, e falava com voz humana. Ele revelou aos humanos todas as coisas que contribuem para a civilização, como a escrita, as leis, a geometria, a agricultura, a astronomia e a religião. Ele também lhes ensinou a construir cidades, templos e palácios. Depois de passar o dia entre os humanos, ele voltava ao mar à noite.
Beroso afirma que Oannes não foi o único de sua espécie a aparecer na Mesopotâmia. Ele diz que, depois dele, surgiram outros quatro animais semelhantes, que também transmitiram conhecimentos aos humanos. O último deles foi chamado de Odacon, e tinha quatro asas, duas caudas, uma boca de leão e olhos de fogo. Ele ensinou aos humanos as artes mágicas e os mistérios da natureza.
As características de Oannes
O nome Oannes é a forma grega do acádio Uanna, que significa “aquele que possui a água”. Esse nome também é usado para designar um dos sete sábios (apkallu), que eram seres semidivinos enviados pelo deus Ea, o senhor das águas doces e da sabedoria, para instruir os reis e os sacerdotes da Mesopotâmia.
Os apkallu eram representados como homens com cabeça e corpo de peixe, ou como homens vestidos com peles de peixe. Eles carregavam um cesto com símbolos de fertilidade e uma vara com uma flor de lótus, que era o emblema de Ea. Eles também eram associados aos números, às medidas, aos calendários e à astrologia.
Oannes, portanto, pode ser considerado como o primeiro e o mais importante dos apkallu, o porta-voz de Ea e o mestre da civilização. Ele era venerado como um deus pelos mesopotâmicos, que lhe atribuíam vários epítetos, como “o grande sábio”, “o pai dos deuses” e “o criador do mundo”. Ele era o patrono das artes, das ciências e da escrita, e o guardião dos segredos cósmicos. Ele também era o protetor dos pescadores, dos navegantes e dos viajantes, e o provedor da abundância e da prosperidade.
As lendas de Oannes
A figura de Oannes inspirou várias lendas e mitos na Mesopotâmia e em outras culturas. Uma delas é a do dilúvio, que foi narrada por Beroso e por outros autores antigos, como Alexandre Polístor e Abydeno. Segundo essa lenda, Oannes avisou aos humanos sobre um grande cataclismo que iria destruir a terra, e lhes ensinou a construir uma grande embarcação, na qual deveriam entrar um casal de cada espécie animal, junto com suas provisões.
O herói que seguiu as instruções de Oannes foi chamado de Xisutro pelos babilônios, de Ziusudra pelos sumérios, de Utnapishtim pelos assírios e de Noé pelos hebreus. Depois do dilúvio, Oannes ajudou o herói a sair da embarcação e a repovoar a terra.
Outra lenda é a da criação do homem, que foi contada por Diodoro Sículo, um historiador grego do século I a.C. Segundo ele, Oannes e sua esposa, a deusa Derceto, que também tinha forma de peixe, geraram um filho chamado Semíramis, que foi abandonado à beira de um rio.
Ele foi encontrado e criado por uma pomba, e depois se tornou a rainha e fundadora da Babilônia. Ela foi a primeira a inventar as muralhas, as torres, os jardins suspensos e outras maravilhas da cidade. Ela também foi a primeira a estabelecer um império, que se estendeu da Índia até a Etiópia.
Oannes é um personagem fascinante, que revela muito sobre a cultura e a religião da antiga Mesopotâmia, símbolo da conexão entre o mar e a terra, entre o divino e o humano, entre o conhecimento e a civilização.
O deus peixe que ensinou aos humanos tudo o que eles precisavam para viver em harmonia com a natureza e com os deuses. Ele é o mestre da sabedoria, da arte e da magia, que deixou um legado inestimável para a humanidade. Oannes, o misterioso deus peixe da Mesopotâmia.
Referências:
- “The Sumerians: Their History, Culture, and Character” de Samuel Noah Kramer – Este livro oferece uma visão abrangente da civilização suméria, incluindo aspectos de sua mitologia e religião.
- “The Oxford Companion to World Mythology” de David Leeming – Este livro fornece uma visão geral de várias mitologias, incluindo a suméria, e pode oferecer informações sobre figuras míticas como Oannes.
- “Ancient Mesopotamia: Portrait of a Dead Civilization” de A. Leo Oppenheim – Focado na história e cultura da Mesopotâmia, este livro pode fornecer informações de fundo sobre o contexto em que as histórias de Oannes surgiram.
- “Myths from Mesopotamia: Creation, The Flood, Gilgamesh, and Others” traduzido por Stephanie Dalley – Este livro compila textos mitológicos da Mesopotâmia, incluindo aqueles relacionados a Oannes.
- “Religions of the Ancient World: A Guide” de Sarah Iles Johnston – Embora não seja exclusivamente dedicado à Mesopotâmia, este guia abrange várias religiões antigas e pode fornecer insights valiosos.